O cinema mudo dos anos 1920 foi palco de uma revolução estética e narrativa, explorando temas que ainda ecoam na sociedade contemporânea. Entre as obras-primas da época, destaca-se “Greed”, um filme de 1924 dirigido por Erich von Stroheim, uma figura controversa e visionária que deixou sua marca indelével no panorama cinematográfico.
“Greed” é muito mais do que um simples drama romântico; é uma tragédia clássica sobre a natureza humana em toda sua complexidade. O filme acompanha a trajetória de McTeague, um dentista rude e ambicioso interpretado com maestria por Gibson Gowland. McTeague, obcecado por acumular riqueza, embarca numa espiral de ganância desenfreada que o leva a cometer atos terríveis. Sua paixão por Hazel Hampden, uma jovem gentil e inocente interpretada por ZaSu Pitts, se transforma num turbilhão de possessivo descontrolado quando ele descobre um grande tesouro.
Von Stroheim tecia uma trama densa com personagens complexos e moralmente ambíguos. A beleza frágil de Hazel contrasta com a brutalidade de McTeague, criando um conflito que transcende o amor romântico. O filme também explora temas como a hipocrisia social da época, a corrupção em sistemas de poder e as consequências devastadoras da busca incessante pelo dinheiro.
A Arte Visual de “Greed”: Um Detalhe Fascinante
Von Stroheim era conhecido por seu perfeccionismo meticuloso. Ele envolveu-se profundamente na produção de “Greed”, controlando cada detalhe, desde a cenografia até as performances dos atores. O filme é famoso por suas cenas longas e elaboradas, que criam uma imersão profunda no mundo retratado. A fotografia em preto e branco de Karl Struss destaca a atmosfera pesada do drama e a beleza melancólica das paisagens desérticas da Califórnia.
A trilha sonora original de “Greed”, composta por Hugo Riesenfeld, complementava perfeitamente a narrativa, intensificando a tensão dramática e o pathos emocional das cenas.
“Greed”: Uma Herança Cinematográfica Polêmica?
Apesar do reconhecimento crítico de “Greed” como uma obra-prima cinematográfica, o filme também gerou controvérsia em sua época devido à sua natureza crua e perturbadora. Von Stroheim enfrentou problemas com os executivos da distribuidora, que consideravam a versão original de 4 horas muito longa e excessivamente violenta para o público geral.
Após intensas batalhas, a versão final lançada nos cinemas era significativamente mais curta, tendo perdido cerca de metade do material original. Essa censura, por sua vez, causou grande frustração em Von Stroheim, que considerava “Greed” sua obra-prima incompleta.
Um Filme Perdido e Reaprovado:
Com o passar dos anos, a busca por uma versão completa de “Greed” se tornou uma obsessão entre cinéfilos e historiadores do cinema. Felizmente, em 1980, foram descobertas latas contendo cenas inéditas da versão original. Essas descobertas permitiram que especialistas montassem uma versão mais próxima da visão original de Von Stroheim. A recuperação de “Greed” foi celebrada como um marco para a preservação do cinema mudo e como um testemunho da genialidade criativa de Erich von Stroheim.
Elementos-chave de “Greed”: Uma Análise Detalhada:
- Direção: Erich von Stroheim
- Elenco Principal: Gibson Gowland, ZaSu Pitts, Edna Mae Cooper,
- Duração: Versão original: 4 horas; versão comercial: 2 horas
- Gênero: Drama, Romance, Tragédia
- Ano de Lançamento: 1924
Técnicas Cinematográficas Inovadoras em “Greed”:
Técnica | Descrição |
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Close-ups Intensos | Von Stroheim utilizava close-ups para revelar as emoções cruas dos personagens, especialmente os momentos de angústia e desesperação de McTeague. |
Câmeras Fixas Longas | As longas tomadas fixas criavam uma atmosfera claustrofóbica e intensificavam a tensão dramática. |
Iluminação Expressionista | A iluminação contrastante realçava as sombras dos personagens, transmitindo uma sensação de mistério e tragédia. |
“Greed” é um filme que continua a provocar reflexões sobre a natureza humana e os perigos da ganância desenfreada. Sua influência pode ser percebida em filmes posteriores que exploram temas semelhantes, como “Avareza” (1942) de Orson Welles. Para quem busca uma experiência cinematográfica única e poderosa, “Greed” é uma obra obrigatória.